sexta-feira, maio 29, 2009

Livro de horas

Aqui diante de mim, eu, pecador, me confesso de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau que vão ao leme da nau nesta deriva em que vou.
Me confesso possesso das virtudes teologais, que são três, e dos pecados mortais, que são sete, quando a terra não repete que são mais.
Me confesso o dono das minhas horas O dos facadas cegas e raivosas, e o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo andanças do mesmo todo.
Me confesso de ser charco e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco que atira setas acima e abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído do tal céu que Deus governa; de ser um monstro saído do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim para dizer que sou eu aqui, diante de mim!

Sem comentários: